# Você comete a falácia do coletor — mas ainda não percebeu
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## +5.000.000 de PDFs baixados, e ainda na estaca zero.
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[Alexandre Magno Querino A. Silva](https://medium.com/@alexandremagnoquerino?source=post_page---byline--740a6bcf813e--------------------------------)
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[Filosófica Mente](https://medium.com/filos%C3%B3fica-mente?source=post_page---byline--740a6bcf813e--------------------------------)
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Nov 7, 2021
> Lembro-me bem de meus 15 anos. Foi logo quando nasceu em mim o desejo por estudar filosofia, e fazer disso uma profissão. Lamentavelmente, o módulo do colégio era muito pouco para mim. Decidi então buscar conhecimento nessa maravilhosa fonte infinita que é a internet.
Eu pulava de site em site, buscando obras de filósofos de todas as épocas. Baixava todas que encontrava, em poucos dias eu já tinha mais de 40 obras para ler.
“Conhecimento!”, eu inocentemente dizia para mim mesmo.
Acontece que essa pilha de obras só aumentou com o tempo, especulo que não estudei nem 5% delas. E o que estudei, ainda o fiz mal, pois nesse tempo eu não tinha um [[zettelkasten]].
O caso era que eu estava cometendo a famosa _falácia do coletor_. **Essa falácia representa a inferência injustificada de que _coletar_ informações levará você a, consequentemente, _aprender_ alguma coisa**.
É tentador, porém destrutivo e improdutivo, coletar todo tipo de material que encontramos por aí. O mais importante, quando se fala em estudar, é _processar_ informações. A coleta deve ser modesta, cuidadosa e consciente. É no processamento que está a chave do aprendizado.

Conteúdo cru
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Esse amontoado de livros e artigos que tenho baixados em meu computador são o que poderíamos chamar de “conteúdo cru”. E veja, mesmo o que eu já li e estudei também é cru. Afinal, nessa minha pasta de PDFs não tem nada _meu_, apenas as palavras dos outros.
**Eu me lembro de vários momentos em que “demonstrei” a meus colegas que sabia de um assunto qualquer apenas citando uma ou outra frase do autor que li.** Ler e memorizar trechos não pode ser considerado processamento, e muito menos conhecimento. Por um lado, é triste dizer isso, mas passei minha vida inteira achando que estudar era exatamente isso. Por outro lado, estou satisfeito por ter abandonado essa vida de autoengano relativamente cedo, aos 23 anos de idade.
Vamos refletir juntos sobre isso. Digamos que você está estudando biologia e se depara com a seguinte informação:
> “A **mitose**, também chamada de cariocinese, consiste no processo de divisão celular, em que a célula-mãe gera duas células-filhas”
Diante disso, você copia em seu caderno essa informação, afinal, vai cair na prova!
Pense bem, o que exatamente você fez com essa informação? Copiou, é claro, mas em que isso lhe ajuda? Você pode até achar que _coletar_ essa informação é algo útil, mas não é esse o caso.
Isso vai para o seu caderno em questão de segundos, leva apenas o tempo de abrir o caderno e escrever uma frase. E pode até lhe deixar com a perigosíssima _impressão de que aprendeu_ o assunto, apenas porque está fresco na memória.
Isso que você copiou e colou em seu caderno é conteúdo cru, não serve para nada. **É por isso que você tem “brancos” e de repente esquece as coisas, as vezes até coisas que você leu 10 minutos atrás!**
**Conhecimento é conexão.** Você precisa processar essa informação antes de ir para seu caderno. Você precisa interpretar e conectar essa informação com outras, segundo _suas próprias palavras_. Não se preocupe, vou lhe ensinar a fazer isso.

Processando conteúdos
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O primeiro passo rumo ao estudo produtivo é _escrever com suas próprias palavras_. Provavelmente você já ouviu isso por aí. É algo mais ou menos simples de fazer. Claro que em matérias como matemática ou física isso fica um pouco mais difícil, por serem exatas e menos discursivas, mas isso não deve ser um obstáculo.
Um jeito de fazer isso é tentar escrever determinado conteúdo estudado sem consultar a fonte, apenas com sua memória. Assim você se força a resgatar as ligações que sua memória fez a pouco, enquanto você estudava. Aí depois você consulta a fonte e vê se cometeu algum erro.
Pois bem, escrever com as próprias palavras já é um bom começo, mas o principal aqui é _conectar ideias_.
**A finalidade de uma boa sessão de estudo é gerar algum produto, seja uma nota, um resumo, uma resenha ou o que for.** Então, você deverá sempre escrever _textos íntegros_ sobre os conteúdos. Nada de listas de tópicos, nem mapa mental. Escreva textos, com início, meio e fim.
Desse modo você constrói algo sólido e autoral, feito por você, para você. Vamos voltar ao exemplo anterior, da mitose. Eu posso converter aquele bloco de informações em:
> “**Mitose** (ou cariocinese) é um processo de divisão celular, a partir do qual uma célula se divide em duas.”
Percebe que eu disse a mesma coisa com outras palavras? Esse é um bom começo. Vou fazer melhor ainda.
> “A **mitose** é um processo de divisão celular, que é contínuo em eucariontes e demora aproximadamente 24h para ser concluído. A célula passa por alguns processos até finalmente se dividir em duas. Primeiro ocorre a interfase, que consome 90% do tempo total da mitose e contém três fases: intervalo G1; período S; intervalo G2. A seguir, a célula inicia o processo mitótico propriamente dito, que contém cinco etapas: prófase; prametáfase; metáfase; anáfase e telófase. Terminados todos estes processos, a célula-mãe inicial se torna duas células-filhas.”
Vê como eu não só inclui, como também conectei, novas informações? Isso me tomou alguns minutos e me obrigou a pensar sobre esse assunto (que não estudo faz muitos anos): pensar que subprocesso vem primeiro, quantas são as etapas mitóticas, a ordem delas, etc. Claro que eu resumi bastante a coisa, há muito mais ainda para falar sobre esse tema, mas espero que o exemplo tenha sido ao menos ilustrativo.
**Se você consultar minha fonte, ou qualquer livro de biologia, encontrará todas essas informações. Mas não as encontrará escritas assim, porque _eu_ sou o autor disso**. _Eu_ organizei e liguei os pontos da forma como achei mais coerente, de acordo com meu estilo e objetivo.
Este simples feito de escrever um texto descritivo sobre o assunto faz toda a diferença quando você precisar revisar os conteúdos. Você terá algo muito melhor do que mapas mentais e listas de tópicos. Se você fizer bem feito, nem precisará mais voltar à fonte original. Isso faz com que você economize tempo, trabalho e seja muito mais eficiente.
Lembra lá do relato inicial sobre eu ter baixado dezenas de obras filosóficas? Isso foi à 8 anos atrás. Eu levei centenas de horas lendo alguns desses livros e artigos, sublinhei vários, mas nunca produzi notas autorais sobre nenhum. **O que eu tenho hoje, como fruto de todo aquele trabalho e tempo investido? Nada. Talvez uma ou outra lembrança vaga, ou pior, listas de tópicos e palavras-chave que eu não lembro mais o que significam.**
Eu recomendo que, se você hoje comete a falácia do coletor, abandone o quanto antes esse mau hábito. Ao invés de coletar, escreva. Ao invés de sublinhar, escreva. Seja um processador, não um coletor de informações.
E como sempre digo por aqui, não estude sozinho(a)! Esteja sempre em diálogo com seus colegas e amigos.
**Caso a leitura tenha feito sentido para você, considere conhecer meu novo e-book sobre estudos:** [**Notas inteligentes: tudo que a escola não lhe ensina sobre estudar.**](http://bit.ly/notas-inteligentes)
Referências:
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* [Stop Relying on a Source and Have Faith in Your own Thoughts](https://zettelkasten.de/posts/dont-rely-on-source-have-faith-in-yourself/)
* [Educa Mais Brasil: Mitose](https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/biologia/mitose)