
# O dilema da página em branco
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## O terror dos escritores
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[Alexandre Magno Querino A. Silva](https://medium.com/@alexandremagnoquerino?source=post_page---byline--bfacc57c937c--------------------------------)
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[Filosófica Mente](https://medium.com/filos%C3%B3fica-mente?source=post_page---byline--bfacc57c937c--------------------------------)
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Oct 7, 2021
> O prazo se aproxima. Pilhas e pilhas de material em cima da mesa. Você já leu tudo que precisava, você tem tudo em mente. Eis que você decide dar um fim nessa terrível fera que é o trabalho atrasado. Você abre um arquivo de texto, dá um gole no café, respira fundo… e nada. Branco total, paralisia completa.
É particularmente curioso como uma folha em branco pode aterrorizar qualquer pessoa. Eu mesmo já fui uma dessas pobres almas. Não importa o quando você encare aquela figura pálida e desalmada, ela nunca vai embora.
A ideia de que “o primeiro passo é o mais difícil” se encaixa bem nesse contexto. Por mais que você tenha estudado tudo e mais um pouco, parece ser inevitável esse travamento inicial. Porém, **estou disposto a subestimar esse problema e mostrar que isso é apenas uma falha de percurso.**
O erro está justamente em acreditar que a página em branco é “o primeiro passo” da escrita. Na verdade, ela é precisamente o final da jornada. A linha de chegada, não de partida.
A escrita começa muito antes. E eu só descobri isso recentemente, quando conheci o [[zettelkasten]]. Essa palavra alemã e, consequentemente, difícil até de pronunciar nomeia um método de gestão de conhecimento pessoal. É um jeito sistemático de lidar com os materiais que você consome e com os produtos que você cria a partir deles.
Sempre que eu estava enfrentando algum bloqueio de escrita eu procurava no Google “como vencer a página em branco” ou “métodos de escrita e produtividade”. Vez ou outra eu esbarrava em coisas como:
> Passo 1: delimite o tema ou o assunto do seu texto;
> Passo 2: descreva em tópicos a estrutura do seu texto;
> Passo 3: comece a preencher cada tópico.
Isso não ajuda em nada, mas eu acreditava que sim. Então lá eu ia fazendo listas de tópicos, “estruturando meu texto” e blá, blá, blá. Esse processo é realmente divertido, mas não se engane. Fazer uma lista de tópicos é fácil e gera a _falsa impressão_ de que você está progredindo. Bom, no final das contas, eu parava no mesmo lugar: paralisado em frente à página em branco, mas dessa vez com uma lista de tópicos inúteis em mãos.
**O [[zettelkasten]] me ajudou a reconhecer que meu erro estava não hoje no momento em que estou paralisado, mas lá no passado, no meu processo de estudo.**
> Eu descobri que não há nada mais sem propósito que sublinhar trechos de texto, fazer setinhas em parágrafos ou escrever “palavras-chave”. E era basicamente isso que eu chamava de “estudar”. Terrível engano.
A base do [[Zettelkasten]] é a escrita. É pensar escrevendo, literalmente. O processo de escrita inicia no momento em que você inicia seu estudo. **Ao invés de sublinhar algo porque achou pertinente, escreva uma nota sobre aquilo!**
Você deve guardar todas essas notas numa caixa e organizá-las segundo alguns princípios (não entrarei em detalhes aqui).
Se para cada ideia interessante de uma fonte sua você escreve uma breve nota, no final você terá um amontoado de notas contendo vários _insights_ seus e lembretes importantes.

**Notas bem feitas duram para sempre.** Quanto tempo dura um trecho sublinhado? Eu aposto que em 1 mês você já esqueceu a razão de ter sublinhado aquilo, e precisaria ler tudo de novo.
Bom, agora que você tem várias notinhas suas, escritas com suas palavras, que fazer? Esse é o momento em que você parte para a escrita do texto definitivo, sua produção.
Apenas imaginando talvez você ainda esteja cético quanto ao poder de uma caixinha de notas. [Convido-lhe a experimentar.](http://bit.ly/notas-inteligentes)
Pois bem, note que o cenário agora é outro. Com o [[zettelkasten]] você não está diante da página em branco apenas com sua pilha de fontes e referências. Agora você tem em mãos não conteúdo bruto e sublinhado, você tem uma caixa repleta de ideias e conteúdos _processados por você, escritos por você._
Dar uma lida nessas notas é mais que suficiente para que ideias comecem a brotar. Reler suas notas ativa sua memória melhor do que marcadores de texto e “palavras-chave”, porque nelas você encontra as _suas palavras._
Darei o meu próprio exemplo. Antes do [[zettelkasten]], para escrever um artigo como este eu ficava pelo menos **20 a 30 minutos** só olhando a página vazia e pensando no que escrever. As vezes, eu ficava tão ansioso ou estressado com isso que depois de encarar bastante a tela do computador eu desistia e ia fazer outra coisa.
Hoje, no dia que estou escrevendo isso aqui, demorei cerca de **20 a 30 segundos** para começar a escrever. Sim, isso mesmo. A razão disso é que aqui ao meu lado eu tenho minhas notas sobre este tema. A escrita já começou lá atrás, em meu estudo, hoje estou apenas colocando a cereja no bolo.
Parece mágica, né? Mas é só escrever algumas notas.

Enfim, posso resumir meu conselho sobre este problema em algumas recomendações básicas:
> 1. Prefira escrever notas ao invés de sublinhas/marcar textos.
> 2. Escreva suas notas apenas com suas próprias palavras.
> 3. Sempre revisite suas notas, não as deixe acumulando poeira!
É garantido que se você começa seu processo de escrita antes da fatídica hora de produzir o texto definitivo, você simplesmente não sofre mais com esse dilema.
Este texto é também um experimento. Me desafiei a escrevê-lo do início ao fim em apenas 60 minutos, e consegui. Na verdade faltam ainda cerca de 5 minutos, que utilizarei para revisá-lo. Sem dilema. Simples assim.
Pois é, existe sim uma vida sem o dilema da página em branco. Eu espero, de verdade, que esse texto ajude você com isso.
**Se você realmente se interessou pelo assunto e quer saber mais, considere ler meu e-book introdutório sobre [[zettelkasten]]. Você pode acessá-lo** [**clicando aqui**](http://bit.ly/notas-inteligentes)**.**
Referências:
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* AHRENS, Sönke. _How to Take Smart Notes_. 2017.